domingo, 31 de julho de 2011

O Fado Ilustrado de Jorge Miguel: Uma obra notável.

Este blogue tem como título  O Fado Ilustrado  com o consentimento do autor
e meu amigo Jorge Miguel que aproveito para agradecer e cumprimentar.
Sendo um fervoroso amante do século XIX e da literatura portuguesa daquela
época pretendi aproveitar o nome do álbum para publicar material referente
à História, sociedade, artes e em geral a toda aquele final de época.
Pretendo assim falar da outros autores e de outros acontecimentos que
não foram abordados pelo álbum do meu amigo, mas que me parecem ser
relevantes para conhecer e divulgar uma parte da História do nosso país
tão importante e no entanto tão desconhecida.






Nenhum álbum da chamada Arte Sequencial portuguesa me tinha entusiasmado
como este. Tive a oportunidade de criar amizade com o autor Jorge Miguel 
depois de conhecer a obra de saber somos quase vizinhos. A obra é brilhante
a todos os níveis: Desde o desenho inovador à maneira como o enredo é contado.
Durante uma das primeiras conversas frente a uma bica que tive com o J.M.
perguntei-lhe de onde lhe tinha vindo a ideia de escrever o guião em sequências
temporais onde a lógica cronológica não prevalece e onde as personagens que
para o olho menos atento não têm aparentemente nada a ver uns com os outros
acabam por tecer uma teia sabiamente construída à volta da palavra FADO.
Fado-canção, Fado-destino, Fado- pintura. Na realidade, todas as
personagens se conheceram, fora o casal de fadistas que só trataram com o
 pintorJosé Malhoa. J.M. reconhece ter tido influencias de um certo cinema francês
dos anos 60, que por sua vez inspirou autores como Quentin tarantino em
"Pulp Fiction". Perguntei-lhe se ele conhecia "Intolerance" de  W.D. Griffith,
ao que ele me respondeu que só ter visto parcialmente "The birth of a Nation"
daquele cineasta. Em "Intolerance" Griffith não experimenta o Fado, mas sim
o Amor através de vários "quadros" que também não respeitam a linha de tempo
convencional. O resultado é uma narração cheia de emoção e que realça a
ligação entre várias entidades não dando grande importância à época em que
vivem. Ao encontrar as diferentes relações que as personagens do "Fado Ilustrado"
tiveram na vida real, J.M. foi verdadeiramente brilhante. Os "Vencidos da vida"
ligavam Eça e Ramalho ao rei Dom Carlos, que estava ligado ao Malhoa pelo
"Grupo do Leão" e pelo retrato real que o pintor das Caldas estava a executar,
este último ligado ao casal de modelos do quadro "O Fado". Enfim, todos os
"atores" tiveram de lidar com maiores ou menores consequências com a
organização terrorista chamada "Carbonária". Finalmente, todos fizeram parte
dum mesmo FADO. A forma como J.M. contou estas relações assimétricas entre
as personagens misturando a linha de tempo foi brilhante. Não fosse assim, o álbum
teria perdido da sua força. É claro que não é um livro destinado a leitores
de "quadrinhos" americanos. As reconstituições da Lisboa da época é brilhante.
O vocabulário dos  criminosos da altura é precioso. J.M. explicou que o regicídio
foi tratado com muito pudor. Nada de violência fácil e sem propósito. 
A capa pretende fazer lembrar as gazetas ilustradas da época.
Uma verdadeira lição de História contada por um contador exímio.
A ler absolutamente.

S-L.

Tem o selo da editora Plátano.